A economia em tempo de guerra

2022 chega ao fim dominado pela guerra desencadeada em 24 de Fevereiro.

Na altura do encerramento desta edição, observa-se um impasse na frente de batalha, sem consenso dos especialistas dos maiores institutos internacionais acerca do evoluir do conflito.

A situação afecta a economia mundial, em termos imediatos, estruturais e estratégicos. Como refere Fernando Teixeira dos Santos (págs. 9 a 14), o conflito na Ucrânia “não representa o fim da globalização, mas vai obrigar ao redesenho das redes internacionais de comércio e investimento impondo alterações significativas nos seus fluxos”.

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O Economista 2022

A incerteza é a única certeza nos dias que correm – passe o “trocadilho” e, também, o lugar-comum.

A questão é recorrente, mas o seu agravamento não pode deixar de causar forte apreensão junto das empresas, dos gestores, das famílias.

De facto, é difícil fazer planos, não é fácil garantir prazos, é complicado cumprir compromissos.

É já um clichê, mas não é demais insistir: depois da pandemia ter deixado inúmeras empresas e famílias exauridas, a guerra na Ucrânia completou um quadro assustador. Milhões de famílias em todo o mundo sofrem com a falta de cereais e com o brutal aumento da generalidade dos produtos alimentares. Cresce o número de empresas paralisadas (por exemplo: a “simples” escassez de chips implica uma fatal perturbação em inúmeras indústrias, nomeada mente no sector automóvel e no ramo de electrodomésticos), aumentam as insolvências.

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Os riscos de uma economia dependente do turismo

A actual pujança do sector do turismo português é motivo de regozijo – e não apenas por parte do ministro das Finanças…

Os últimos números oficiais não deixam dúvidas: comparando com o mesmo mês de 2019 (antes da pandemia e ano recorde), a actividade turística em Julho de 2022 estava 6,3% acima em termos de hóspedes e 4,8% relativamente às dormidas. Quanto às receitas, elas continuam a crescer extraordinariamente: mais 11% em Julho de 2022 em relação ao mesmo mês de 2019. Em termos de exportações, na última década o turismo permitiu que a balança comercial externa fosse positiva.

Mas sendo o turismo bem-vindo, há vários alertas que não devem ser menosprezados, o principal dos quais consiste na dependência da economia portuguesa face ao turismo.

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O (outro) monstro

O monstro está aí, vigoroso, a crescer desalmadamente desde há um ano. Não, claro, o monstro tornado popular por Cavaco Silva quando escreveu o artigo referente ao crescimento das despesas públicas, mas a inflação – esse outro monstro capaz de desestabilizar a mais pujante economia.

A taxa atingiu em Portugal 8,1% em 21 de Maio passado, comparando com 0,5% no mesmo mês de 2021. Os efeitos da brusca subida dos preços fazem-se sentir, nomeadamente nos produtos alimentares. Daí o esvaziamento dos carrinhos dos supermercados…

Como no início do século, a propósito do papel do Estado na economia, também hoje muitas pessoas – nos meios de comunicação, nas empresas ou à mesa do café – com ou sem conhecimento da ciência económica, sentem-se à altura de debitar pareceres definitivos sobre a inflação.

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Transformar e inovar

É pacifica a necessidade de fazer transformações, algumas radicais, no tecido empresarial português – caracterizado, como se sabe, pela pequena dimensão das suas unidades, 99% das quais PME, responsáveis por 60% da riqueza do País.

Tendo em conta as assimetrias (há todo um mundo a separar uma startup de uma retrosaria!), é preciso transformar, é urgente inovar. Como escreve neste número um catedrático do IST, “tal como para se poder conduzir um avião se exige que os pilotos tenham um brevet certificado e adequado ao tipo de avião, os executivos de uma empresa, nomeadamente PME, deveriam ter brevet de voo no espaço virtual!”.

Enfim, não erradicando bruscamente a “velha economia” (a retrosaria, nos actuais moldes, nāo tem futuro, mas não deve ser morta subitamente), é necessário transformá-la em economia digital, é urgente substituí-la pela economia do conhecimento.

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Um ano melhor

Na edição de Dezembro do ano passado, neste mesmo espaço, escrevemos, sob o título “Um ano mau”, que 2020 tinha sido mau em todas as vertentes – sanitária, económica, financeira e social. Não obstante, manifestámos esperança para 2021, em resultado do notável trabalho da comunidade científica, que proporcionou, em tempo antes impensável, as vacinas libertadoras.

Pode dizer-se que se confirmaram as previsões: a um ano mau sucedeu um ano bastante melhor, com a economia a crescer mais do que as expectativas de então e a pandemia controlada – apesar dos sobressaltos das últimas semanas, em consequência das novas variantes, sobretudo da Ómicron.

Neste número dos Cadernos de Economia, qualificados autores analisam a situação económica portuguesa e perspectivam 2022. Desde logo, o Primeiro-Ministro, António Costa, que escreve sobre as qualificações dos portugueses. Também Álvaro Nascimento (docente da Universidade Católica Portuguesa) analisa as “políticas de nova geração”, enquanto Glória Rebelo (ULHT) disserta acerca da transição digital e emprego. Por sua vez, João Ferreira do Amaral (ISEG) aborda as “deficiências do processo de aprovação do Orçamento”. Igualmente sobre o OE-2022 escrevem Nazaré da Costa Cabral (Presidente do Conselho Superior das Finanças Públicas) e Luís Belo (fiscalista).

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O Economista 2021

… E, ao fim de seis orçamentos aprovados com o apoio da esquerda parlamentar, o entendimento entre estas forças políticas ruiu. A corrente partiu, o sétimo Orçamento do Estado foi rejeitado, a Assembleia da República vai ser dissolvida, as eleições estão aí. O diabo em forma de “berbicacho”…

É a crise, a inusitada crise, que todos os partidos, todas as confederações patronais e sindicais, todas as instituições da chamada sociedade civil dizem não desejar. (Aqui, neste espaço não se faz comentário político-partidário; por isso, dispensamo-nos de analisar os causadores directos do desenlace).

A nova situação, realmente inesperada, surge numa altura em que o País vem dando sinais de recuperação, com o PIB a crescer (a OCDE prevê que regresse ao nível pré-pandemia ainda durante o quarto trimestre deste ano) e a dívida pública a cair 2,1 mil milhões de euros em Setembro.

Mas o horizonte continua plúmbeo, o futuro apresenta-se complexo. Alguns dos nossos analistas mostram-se muito pessimistas, como João César das Neves (pág. 51) ao opinar que “a futura situação das finanças públicas parece evidente: de momento temos as contas ligadas ao ventilador; quando saírem dos cuidados intensivos, é natural que venham a sofrer da síndrome ‘long COVID’ com mazelas duradoras”. Já António Costa Silva (pág. 21) não se coíbe em afirmar que Portugal vive uma situação dramática, explica onde o País tem falhado, e expressa algum optimismo: “Portugal pode melhorar substancialmente se o país souber utilizar o PRR e o Portugal 2030 para trabalhar com as empresas, as instituições do ensino superior e os centros de investigação e mexer nas alavancas que podem mudar o destino e a trajectória recente da economia portuguesa”.

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A insustentabilidade do sistema público de pensões

A sustentabilidade do sistema público de pensões – manda o rigor não confundir com o sistema de Segurança Social propriamente dito – está em risco.

Muito antes da pandemia, que naturalmente agravou a situação deficitária, o diagnóstico era conhecido: o sistema público de pensões caminhava a passos largos para um ponto crítico que, a não ser atalhado, atingiria a ruptura num prazo não muito longínquo. O financiamento “natural” era, e continua a ser, a causa. Observem-se, somente, dois números referentes à Taxa Social Única: de acordo com o orçamento da Segurança Social em 2020, antes do surgimento da COVID-19 em Portugal, a receita prevista da TSU era de 19.653 mil milhões de euros, mas terá ficado 1.431 milhões de euros abaixo do orçamentado. Neste caso, a pandemia está inocente, nada tendo a ver com a derrapagem.

Como se sabe, a questão demográfica é o grande problema com que se debate o sistema público de pensões. Para que se verifique a sua sustentabilidade, os nascimentos terão de ser superiores aos óbitos, deverão entrar mais pessoas do que saem, como lembra uma investigadora nesta edição.

Também aqui os números são elucidativos: em 2010 havia 28 idosos para 100 indivíduos em idade activa; actualmente, isto é, apenas 11 anos depois, há 35, número que duplicará dentro de 50 anos. Esta subida galopante causa a maior preocupação.

A reestruturação do sistema público de pensões é, pois, um problema ingente – aliás, defendida pelas forças políticas e analistas de todos os quadrantes.

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A marca Portugal

O mármore de Estremoz ainda é mais apreciado no Médio Oriente se o marketing o transformar em “mármore de Carrara”? Provavelmente sim. Porquê? Porque a marca país Itália suplanta a marca país Portugal.

O azeite português tem que passar por Espanha para conquistar os EUA? Parece que sim. As razões são as mesmas do mármore: a marca país Espanha vende melhor do que a marca país Portugal.

Na verdade, se há produtos que nenhuma campanha “fraudulenta” consegue adulterar – casos da cortiça, do Vinho do Porto, ou mesmo da Via Verde que exportámos – há outros que não resistem ao facto da marca país Portugal se encontrar (ainda) na 43.ª posição do ranking mundial.

A situação vem mudando nos últimos tempos – veja-se o caso do calçado, que já não necessita de passar por Itália para ganhar o mundo.

Naturalmente, a mudança tem a ver com o esforço e nova mentalidade dos industriais, cada vez mais cientes de que só com a qualidade dos produtos, um design permanentemente actualizado, campanhas globais assertivas, é possível competir a nível global.

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Pilar do desenvolvimento

A montante de todas as transformações – económicas, sociais, tecnológicas, (…) – a educação em Portugal atravessa uma fase complexa, todavia fascinante em termos de futuro.

Nunca como agora se discutiram tanto as bases da escola que temos e da escola que queremos e podemos ter. Jamais se debateram tão profundamente questões como as novas formas de aprendizagem, o ensino à distância, a cooperação universidade-empresas.

A COVID-19 impulsionou o debate – e este é um crédito a ter em conta lá mais para diante, quando se fizer o verdadeiro balanço da pandemia em curso.

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